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18 anos ajudando a curar

17/04/2017 às 10:01

18 anos ajudando a curar

O presente de aniversário chegou um mês antes para Yasmim da Silva. Ela, que completou 12 anos dia 15 de abril, está curada de uma Leucemia Linfóide Aguda (LLA). Depois de oito anos de tratamento contra o câncer em Cuiabá ela e a mãe, Suelin Hubner, 33, puderam retornar definitivamente para a casa, em Peixoto de Azevedo (691 km de Cuiabá). Agora comemoram a vitória com o pai, Nélio da Silva, e o irmão, Kalil, de três anos.
A cura de Yasmim é marcante para funcionários, voluntários e dirigentes da Casa de Apoio da Associação de Amigos da Criança com Câncer de Mato Grosso (AACC-MT). Este mês a casa festeja 18 anos de existência. Acolhe crianças com câncer que, como Yasmim, vêm do interior para realizar o tratamento na Capital.
Segundo Benildes Firmo, um dos fundadores, a casa surgiu quando médicos oncologistas que atendiam a pediatria do Hospital Santa Casa uniram alguns conhecidos, que faziam trabalho voluntários, para organizar um abrigo, para cuidar das crianças pobres do interior em tratamento de câncer em Cuiabá. As famílias humildes não teriam condições de arcar com as despesas de hospedagem e alimentação na Capital e se as crianças ficassem no interior, sem tratamento, poderiam morrer.
Benildes lembra que em 1999 o grupo alugou um espaço, no mesmo ano o Instituto Ronald fez a primeira campanha do MC Dia Feliz em Cuiabá e doou parte dos recursos para AACC-MT. “Conseguimos comprar um imóvel e iniciamos o trabalho, atendendo 10 pacientes e 10 acompanhantes. Atualmente conseguimos dobrar a capacidade”, afirma.
Nos últimos 10 anos foram 27.669 atendimentos. “Hoje beneficia 415 crianças e adolescentes, pois atende de forma rotativa. Muitos são pacientes de Cuiabá e Várzea Grande, que não se hospedam, mas precisam de transporte ou de terapia ocupacional”.
A casa tem um espaço de convivência, onde são servidas refeições, uma brinquedoteca, sala de música e artes cênicas, espaço de inclusão digital com quatro computadores e uma sala repleta de livros que serve para leitura e onde funciona a Classe Escolar Hospitalar. Yasmim participou de todas as atividades da Casa, pelo fato de frequentar a classe escolar, hoje a menina está de volta à escola regular, e pode dar continuidade aos estudos sem atrasos.
Cursa o 6º ano do ensino fundamental e sonha em ser médica oncológica, para ajudar crianças que passarem pela mesma doença que ela.
A professora Nádia Turequi Silva, da rede estadual de ensino, trabalha há seis anos na classe da Casa AACC. Ela diz que a atividade tem o objetivo de dar continuidade à vida escolar da criança em terapia. Com didática diferenciada, lúdica e respeitando o tempo da criança que passa por um tratamento agressivo. “Além disso é uma atividade que tiro o foco, por um momento, da doença, possibilitando que a criança tenha esperança de futuro”, comenta.
Benildes explica que o custo da Casa com alimentação, energia, folha de pagamento, combustível do ônibus e da van para o transporte dos pacientes, gira em torno de R$ 120 mil mensais. A manutenção é garantida pela comunidade, que doa 99% dos recursos. São cerca de cinco mil doadores cadastrados. Todas as doações são bem vindas. “Desde recursos, mantimentos à força do trabalho”, comenta Benildes.
Ele diz que em épocas de campanha a Casa chega a ter 500 voluntários, mas no dia a dia apenas três estão lá. “Precisamos de pessoas que venham à instituição prestar apoio voluntário sério e comprometido”, afirma.
Os voluntários são distribuídos por meio de um cronograma e podem atuar em diversas áreas, desde a administração até parte pedagógica, de captação de recursos, limpeza e cozinha.
Há cerca de um mês o engenheiro químico aposentado José Pedro Andrade, 58, assumiu o compromisso de todas às segundas-feiras, das 15h30 às 17h, entreter as crianças e as mães que estão na casa. Leva seus balões para propor brincadeiras e conversa com eles. Ele é voluntário novato na casa, mas carrega mais de 20 anos de experiência no voluntariado. Para ele doar um pouco do seu tempo ao outro é muito gratificante. “A doação de esmolas é importante, mas doar amor, atenção, cuidado é enriquecedor para o nosso próprio desenvolvimento”.

HISTÓRIAS DA CASA -
Quando Suelin, mãe de Yasmim, que é manicure, descobriu a doença a menina tinha três anos. Relata que a criança reclamava de dor na perna e o diagnóstico demorou para sair. Teve que ir para Guarantã do Norte (715 km de Cuiabá) em busca de um pediatra da rede privada, já que não existia especialista na cidade. Assim que o médico desconfiou que era leucemia encaminhou para o Hospital Santa Casa, em Cuiabá. “A Casa de Apoio foi muito importante para a gente. Na primeira fase do tratamento foram dois meses diretos em Cuiabá, depois a gente ficava uma semana voltava para Peixoto e retornava para Cuiabá”, lembra. “Sempre na Casa da AACC, sem esse local seria muito difícil”.
Quem conseguiu vaga na casa da AACC foi a dona de casa Márcia Alves, 30, que acompanha o filho Luan Marques, de dois anos e oito meses, em tratamento há cinco meses, contra um neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso) no cérebro. Eles são de Colíder (650 km da Capital). A história é semelhante de quem mora no interior e sem unidades especializadas, precisa deixar tudo para acompanhar o filho na Capital. “Sou muito grata à casa”.
A cabeça carequinha do menino revela o tratamento. Há seis meses passou por cirurgia para retirada do tumor e agora faz quimioterapia. Os cabelos caíram, mas o menino não tira o sorriso do rosto.
Para a mãe ficar longe de casa, de outros dois filhos de seis e nove anos é difícil, diz que há dias bons e ruins, nesses encontra nas outras mães forças para continuar a luta contra o câncer do filho. “Nas últimas semanas perdemos duas crianças para o câncer”, lembra. “Uma mãe sente a dor da outra, não tem como ser diferente”, diz com os olhos marejados. “Casos como da Yasmim dão esperança que vamos sair dessa situação. Eu acredito na cura”, revela.

Fonte: Jornal A Gazeta

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