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Especial Classe Hospitalar: Na AACC professoras são consideradas parte da família

12/07/2016 às 09:27

Especial Classe Hospitalar: Na AACC professoras são consideradas parte da família

 “A primeira vez que vim aqui, cheguei e vi várias carequinhas. Não conhecia a instituição, nem sabia do que se tratava. Mas resolvi ficar e me apaixonei pelo trabalho”, relata a pedagoga Nádia Turequi Silva. Professora da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc), ela compõe o grupo de três profissionais que atendem a Classe Hospitalar na Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC), no Bairro Alvorada.

Em Cuiabá, quatros Classes Hospitalares atendem crianças e jovens em tratamento médico: AACC, Hospital Universitário Júlio Muller, Hospital do Câncer e Santa Casa de Misericórdia. As classes funcionam como salas anexas da Escola Estadual Dr. Fenelon Muller e as professoras são contratadas pela Seduc. Já a estrutura física é mantida pelas instituições de saúde e voluntários.

A criação das classes é amparada pela Resolução Nº 41/1995 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Ela prevê o direito dos jovens a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do curriculum escolar, durante sua permanência hospitalar. Dessa forma, nos ambientes hospitalares os estudantes desenvolvem atividades compatíveis com os anos nos quais estão matriculados e a progressão é enviada para a Escola Fenelon ou as escolas do município de origem.

Na AACC, as três professoras da Seduc Ironildes Cunha, Nádia Turequi Silva e Cristiane Oliveira Vasconcelos trabalham em média com 15 estudantes de segunda à sexta-feira, das 13h às 17h. O local conta com sala de informática, audiovisual e brinquedoteca com mesas de estudo coloridas que formam um círculo. O ambiente é decorado com lápis de cor e fantasias, que distanciam o ambiente da realidade vivida pelos jovens com seguidas internações e tratamentos.

“Quando falo pra Vitória que precisamos vir pra Cuiabá e vamos ficar na AACC ela fica doidinha. Na hora que chegamos e ela vê que a escola está aberta então, corre para cá. Até meu filho mais novo, que vem às vezes, sente saudade aqui da escolinha. Eu só tenho coisas boas para falar das professoras, elas são minhas amigas e posso dizer que as amo”, se emociona Patrícia Nunes de Souza Freitas, de 31 anos, mãe da pequena Vitória de 10 anos.

Mãe e filha moraram por seis meses na AACC, em 2013, quando a menina tratou uma leucemia LLA, e Vitória foi alfabetiza na classe hospitalar. Patrícia Nunes relata que a presença de uma escola nesse ambiente de recuperação é primordial, pois as crianças são tratadas como alunos e não como pacientes. “Durante o tratamento, algumas pessoas ficam com excesso de cuidados com as crianças, dengam muito. Às vezes, os próprios pais não acreditam que a criança vai melhorar e esquecem da educação formal e de comportamento. Eu sempre pensava que independente de como ela estava, nós iríamos superar e ela seria uma criança educada”, elucida Patrícia.

Atualmente, Vitória frequenta o 4º ano do Ensino Fundamental, em uma Escola Municipal de Alto Taquari (município a 488 quilômetros de Cuiabá) e precisa vir a capital de três em três meses para acompanhamento. Durante os dias que fica na casa de amparo, frequenta a classe hospitalar.

Entre as atividades favoritas da menina estão as ‘tarefinhas’, pinturas e o tempo com as professoras na biblioteca. Ela tem inclusive um livro do qual mais gosta: “A Lojinha Secretas das Fadas”. Predominantemente cor de rosa e com muito glitter, o livro trata de pequenos seres mágicos que criam uma linha de artigos de beleza.

A ludicidade da leitura ajudou Vitória a lidar com a vaidade em desenvolvimento, e com a perda dos cabelos aos seis anos. “Eu fiquei fraca e carequinha, mas agora estou forte e meu cabelo já está comprido e dá para fazer tranças e colocar acessórios, igual a história do livro”, comemora.

Desde 2010 na classe hospitalar da AACC, Vitória foi alfabetizada pela professora Nádia Turequi Silva. A educadora explica que a partir do momento que chega a AACC, as professoras realizam o perfil do estudante, as necessidades pedagógicas e de relacionamento. Para a professora o objetivo do espaço é desenvolver um vínculo do aluno com o mundo real, para que ele continue se reconhecendo como produtor na relação de ensino aprendizagem. “A nossa estrutura colabora para o bom desempenho, é atrativa e acessível. Especialmente para crianças, já os adolescentes têm mais resistência à sala de aula, se envergonham da aparência careca e alguns entram em depressão. Nesses casos também é muito importante o nosso acolhimento”, destaca Nádia.

Na quinta-feira (30.06) nove crianças eram atendidas na classe hospitalar. A acomodação máxima é de 22 alunos. Enquanto alguns moram temporariamente na casa de amparo, outros participam das aulas enquanto estão em manutenção do tratamento. As atividades lúdicas desenvolvidas na classe hospitalar resultaram no projeto “Mais Música, Mais Leitura, Mais Esperança” que por sua vez conquistou o prêmio da Unesco sobre os objetivos do Milênio para a Qualidade de Vida para Crianças e Adolescentes.

Diferente de Nádia, as professoras Iranildes e Cristiane conheciam o trabalho da AACC e escolheram trabalhar na classe. Enquanto a primeira é pedagoga especialista em educação especial e com experiência nessa área, Cristiane é professora de Letras e sonhava em ajudar as crianças com câncer, situação proporcionada pelo ingresso na AACC.

As três professoras concordam que a maior dificuldade é a perda dos estudantes para a doença. Pois elas acompanham não apenas a vida escolar, mas também o tratamento dos jovens e as famílias, bem como as vitórias de crianças que encontram a cura. Em uníssono elas contam que não tem esgotamento mental por conta dessa convivência, ao contrário, os estudantes em tratamento são inspirações para quando tem algum problema, e a alegria deles na classe é uma lembrança diária da importância desse trabalho.

Além do espaço da classe hospitalar, os estudantes têm a oportunidade de participar do passeio terapia a cada 15 dias, quando vão há museus e apresentações culturais, por exemplo. Os jovens também produzem as próprias apresentações de acordo com as datas comemorativas respeitando as limitações de cada um. A próxima festividade já está agendada, a Festa Julina da AACC acontece no próximo dia 30.

Fonte: Assessoria Seduc-MT

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